domingo, 30 de março de 2008

Sacoé? Sou playboy de Nikit, léque!


A praia de Ipanema tem pombos na areia, um sem número de ambulantes que comercializam (aos berros) toda a sorte de bugigangas, gringos branquelos e desengonçados, cadeiras sujas... Mas apesar de residir aqui na Província de Araribóia, ao lado das quase paradisíacas praias oceânicas, costumo atravessar a ponte e ir para o bairro de Tom Jobim quando quero curtir uma praia. E antes que me chamem de louca, apresento-lhes uma lista de razões que explicam minha preferência pelas praias urbanas da orla carioca.

O primeiro é a facilidade de acesso. Apesar da ponte, não gasto mais de 40 minutos no percurso até Ipanema, enquanto o trajeto até Itacoatiara (foto) nunca é percorrido em menos de uma hora no fantástico 38, o verdinho, único ônibus disponível para a praia da provínicia. E como monopólio no transporte é quase sempre sinônimo de serviço ruim, a empresa a qual pertence o verdinho não poderia ser exceção. Além de não prezar muito pela pontualidade, também caga para a manutenção dos coletivos. Desastre total! Como se não bastassem os bancos velhos e os vidros sacolejantes que fazem um barulho insuportável, o maldito ônibus está sempre lotado, o que obriga a nós, pobres, a dividirmos espaço com pranchas e caixas de isopor. Em um feriadão desses, fui do ponto final à praia imprensada em uma das paredes do veículo, ganhando beijinhos no ombro de um ambulante de bigodinho loiro e sem poder esboçar outra reação senão a de gritar: "Dá pra parar, palhaço!"


Trocar o sacolejo e os ambulantes beijoqueiros do verdinho pelo conforto da van com ar condicionado que me leva direto pra Ipanema (e passa na minha rua) já seria uma ótima razão para me afastar das praias de Niterói. Mas não é a única. A principal, sem dúvida, são os indivíduos de uma sub-raça que se prolifera em abundância na Província de Araribóia: os "play". E em "Itaquá", são eles quem mandam. E para os que ousarem desafiar sua supremacia, escreveram um "Fora, Haoles" na pedra do Costão. Ocupam cada metro quadrado da faixa de areia. Para onde se olha, avista-se um espécime. O estilo é inconfundível. O cabelo de cuia (jogar a franja pro lado com um movimento de cabeça faz parte do show), os cordões de prata no pescoço, as tatoos e, o mais característico: o estranho idioma que essas criaturas falam.

Os nomes de batismo- escolhidos tão carinhosamente pelas mães- só existem nas certidões de nascimento dos play. Na galera, são todos "léques, "brothers" ou "malucos". "Que isso, brother. A praiana tá neurótica hoje. Só falta aquele maluco que vai trazer um bagulho, léque!"

Os estranhos vocativos só são substituídos eventualmente por apelidos- também exclusivos desse universo- como Rato, Boquinha e Caveira. Desafio você, leitor, a encontrar uma rodinha de play que não tenha pelo menos um "Rato".



A regra de ignorar nomes também vale quando se referem às moças. Para os play, indivíduos do sexo oposto são sempre "aquela gostosa", "aquela mulézinha do meu prédio", "a lôrinha", "a do rabão"... "Que isso, léque! Rato tá foda! Tá pegando a lôrinha direto e ainda pegou aquela mulézinha do meu prédio, mó rabão. O cara tá muito frenético, maluco!"

E os play também não têm namorada. Eles têm "mulé". "Carai, léque! Tive que almoçar na casa da minha mulé hoje, mó perrengue, sacoé? Minha sogra é maneira, mas o coroa dela é foda, mó sujeira. Tive que dar uma dichavada com colírio, bróther, porque o maluco ficou me encarando, sacóe?"

Mas como não sou radical, decidi mudar de ares ontem e sucumbi: fui pra Itacoatiara. Ciceronear umas amigas que queriam conhecer a praia foi uma boa razão para enfrentar a horda de ex-alunos do Abel e as periquitas que desfilam a boa forma pelas areias (na água elas não entram, pra não estragar o cabelo) pra humilhar a nós, pobres mortais com celulite.

E olhem... Até que não foi ruim. Sou obrigada a reconhecer que a praia é mesmo uma coisa de linda (e limpa). E apesar de ter ouvido um surfistinha recusar um sanduíche oferecido pelo amigo por estar "com uma alimentação neurótica, léque! Vários sucos..." pude lavar a alma ao descobrir que alguns espécimes- apesar das bochechas rosadas e do figurino classe média- estão em situação bem pior do que a galera que pega o 484 lotado pra ir à praia em Cobacabana. Segue um diálogo que confirma minha teoria:

- E aí, léque? Noitadazinha hoje, depois da praiana...
- Pô, brother, tenho que ver... Vou dar uma sufocada na minha coroa. Vou ver se desenrolo com ela pelo menos uns 10 real. Mas se ela me emprestar o RioCard, já tá valendo, léque!


Pois é...

sábado, 15 de março de 2008

Triste fim do Praia das Flexas...


"Continuaremos atendendo no Praia Grande"


Os dizeres acima estão numa faixa pregada na fachada do Hotel Praia das Flexas, um estabelecimento para fornicações localizado a poucos metros da praia de mesmo nome (que se escreve com X mesmo), aqui da terra de Araribóia. Além da faixa, a fachada do estabelecimento, um tanto degradada, dá sinais de que o fechamento é irremediável. Não me resta outra conclusão: é o fim do Praia. E eu estou de luto!

Lamentar o fechamento de um motel? A que ponto chegou essa tal de Musa?, pensarão alguns. Mas quem é da terra de Araribóia ou anda fornicando com nativos daqui me entenderá. E certamente compartilhará do meu drama. O falecido Praia das Flexas não era só um motel. O Praia, como diria meu amigo Roberto, era uma meca niteroiense do amor. Estrategicamente localizado (a poucos metros da minha residência, por sinal), o Praia ficava na rota de todos os casais interessados em, digamos assim, ir para um lugar onde pudessem se conhecer melhor. Um táxi do centro da cidade, de Icaraí ou de São Francisco pra lá não cobrava mais de 20 pratas. Sem contar que era possível, sim, entrar no lugar a pé sem constrangimentos .

Além de tudo, o Praia ficava ao lado da Sendas 24 horas do Ingá. Ou seja: era possível dar um pulinho no hipermercado antes, comprar uns ices quentes por R$ 3 e trocar pelos geladinhos do frigobar do motel, que custavam R$ 8.

Outro diferencial do Praia era a discrição de seus aposentos. Com visual clean, os quartos nem pareciam destinados à prática pura e simples da fornicação. Não fosse o espelho no teto, me sentiria no apartamentinho do namorado nas vezes em que passei por lá. (Sim, foram vezes, no plural. Mas não revelo quantas). E embora eu nunca tenha desenbolsado qualquer vintém para pagar a conta do lugar, já que não sou feminista nesse quesito, posso garantir que o precinho era bem honesto.

Mas como poucas coisas na vida- como o chocolate Talento amargo com avelãs- são perfeitas, o Praia tinha lá seus incovenientes. E um deles, paradoxalmente, era o fato de estar localizado em bairro tão residencial e geograficamente estratégico como o Ingá. A facilidade de acesso tornava o Praia um destino natural, o que proporcionava encontros constrangedores com conhecidos na recepção, na garagem e- desastre total- nos elevadores do estabelecimento. Isso sem contar o medo que eu tinha de encontrar com mamy saindo de umas compras matinais na Sendas quando de lá me despedia...

Mas o pontinho negativo não diminuía a importância do saudoso Praia Das Flexas em nossas vidas. Depois do fechamento do Cinema Icaraí, a terra de Araribóia sofre mais uma perda irreparável. Prefeito Godofredo, exigimos providências!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Mó lazer, o retorno


O BAR DO PARÁ


Meu amigo e companheiro de silviço, Rodrigo Viellas- um fã ardoroso do Musa- me pediu para ressuscitar a coluna mais famosa do universo blogueiro, a "Mó Lazer". Como fiquei um tempo sem circular pelo baixo clero, acabei ficando sem idéias para a seção, mas, atendendo ao pedido do Viellas, aí vai:

Minha sugestão de lazer du bom desta semana é o Bar do Pará. O estabelecimento está localizado no aprazível Morro do Palácio, em Nikit (pra quem não sabe, é aquele que fica em frente ao disco voador do Nimeyer, o Mac). E Por que o Bar do Pará? O que mais tem em favela é boteco, pensarão alguns. Simplesmente, leitores, porque o Pará é muito mais do que um boteco de morro. O Pará é o pico!

A cerveja (de garrafa, é claro) é sempre gelada e baratíssima! Uma skol sai por módicos R$ 2,50!! E sempre tem alguém pra encher meu copo! hehehe




No Pará, não precisa haver motivos para comemorações. Todas as sextas e sábados, tem uma festinha improvisada no point. Quando não rola uma caixa de som emanando os últimos sucessos do funk acima dos limites de decibéis permitidos por lei, a galera que se reúne lá- numerosa, diga-se de passagem- garante a trilha sonora introduzindo moedinhas em uma juke box que conta com vasto repertório. Eu sempre seleciono as minhas preferidas do Bezerra.

Porém, sendo o dono do estabelecimento que leva o seu nome um retirante nordestino, o que impera mesmo é o forró. E foi na sexta-feira passada, em mais uma noite memorável que passei no referido local, que ouvi "Motel Paraíso", uma inesquecível pérola desse popular gênero musical. Compartilho um trecho com vocês:

O Motel Paraíso
pra mim é um inferno
O Motel Paraíso
deixou meu peito deserto
No Motel Paraíso
foi que o pecado se fez
No Motel Paraíso
eu fui traído
pela primeira vez...