sábado, 24 de janeiro de 2009

Sombrinha pra "batalha"


Sábado, 24 de janeiro de 2009. Dia chuvoso na cidade maravilhosa, 7h da manhã. Estava eu - lépida, fagueira e sorridente - num ponto de ônibus da Praça da Bandeira esperando a condução que me levaria para o aconchego do lar, quando chega ao local um grupo de senhoritas, digamos, fisicamente dispostas demais para aquele horário e praquelas condições climáticas. Paramentadas com figurino um tanto ousado para suas silhuetas rechonchudas, elas conversavam em um dialeto desconhecido pra mim e soltavam gargalhadas que certamente ultrapassavam os níveis de decibeis permitidos por lei.

De onde vinha e para onde iria o nada ortodoxo grupo?, cheguei a pensar. Dúvida rapidamente esclarecida por uma constatação geográfica que havia passado despercebida devido às minhas condições físicas e mentais naquele momento. O referido ponto de ônibus está localizado exatamente em frente à Rua Ceará, reduto da famosa zona de baixo meretrício carioca conhecida como Vila Mimosa, carinhosamente apelidada de VM.

Me senti injusta e malvada. Enquanto eu voltava de uma noite linda e alegre, as senhoritas acabavam de deixar a labuta. E eu ali, julgando criticamente o vocabulário e o figurino daquelas cidadãs guerreiras!

E me senti pior quando uma delas, no momento em que eu tentava me esquivar da chuva para caminhar até a minha condução, me ofereceu gentilmente uma carona no guarda-chuva. E sugeriu ainda que eu subisse antes dela as escadinhas do coletivo:

- Pode ir, nem!

No mesmo clima festivo, parte delas (inclusive a gentil) embarcou no mesmo coletivo que eu. Abri mão do MP3 para tentar extrair algum diálogo que pudesse ser transcrito aqui no Musa, mas continuei não conseguindo traduzir o dialeto das moças. Exceção para a despedida de uma delas que, ao encerrar a viagem, na altura da rodoviária de Niterói, recomendou à cálega:

- Fulana, guarda minha sombrinha na tua casa porque se eu levá, exprana! Mas num vai perdê, não! Vô trabalhá co ela na segunda!

Com curiosidade, mas muita sutileza, olhei para a sombrinha no colo da cálega. Um belo exemplar adornado com paetês de tons prata e rosa-choque. Taí! Excelente opção de acessório para não perder o glamour em dias chuvosos de labuta...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Minha família fantástica


Mamy, uma ex-hippie careta


Mamy é o que se pode chamar de uma cinquentona (agora sem trema) "prafrentex". Corpo adornado por tatuagens, figurino com clara influência dos tempos em que peregrinou por um acampamento hippie em Cabo Frio, gírias no vocabulário... minha genitora, sob o ponto de vista dos amigos cujas mães fazem tricô, é uma mulher de mentalidade moderna, daquelas que compra camisinhas pros rebentos.


Pura fachada, acreditem. Mamy, na verdade, não passa de uma careta. E das mais moralistas e conservadoras! Da santinha que cultua na sala da nossa casa a cara torta que faz quando desconfia que não dormi exatamente na casa da Andréa- várias atitudes de mamy comprovam que há um paradoxo entre o que ela é o que aparenta ser. Sobretudo a de querer me arranjar um marido provedor. Certa vez, tomávamos café da manhã na copa de nosso lar- mamy e eu- quando sai uma senhorita do quarto do meu irmão, localizado quase em frente ao cômodo em que nos encontrávamos. Lépida, desinibida e fagueira, lá foi a moçoila em direção à mesa:

- Bom diaaaa!!!!! Tudo bem? Sou a fulana, prazer. Posso roubar um pãozinho?

Achei que mamy fosse empacotar ali mesmo. Com a cútis da cor do pote de requeijão, mal conseguia respirar tamanha era a fúria despertada pela ousadia da moça que- não satisfeita em passar a noite praticando atos carnais com meu irmão num lar abençoado pela santinha do altar da sala- ainda teve a petulância de saciar a fome de uma noite pós-coito com o nosso pãozinho!

- Vadiazinha!

O adjetivo foi um dos poucos publicáveis proferidos por mamy logo após a saída da moça. Desabafo seguido da seguinte análise:

- Uma moça de família não dorme assim na casa de um rapaz que nem namorado é!

Moça de família??? O que diria mamy se soubesse que eu já dormi na casa de rapazes com quem não pretendia exatamente estabelecer matrimônio?

A última comprovação de que de mamy é uma semicarola ingênua aconteceu essa semana. Me preparava para sair quando ela me chama, intrigada:

- Queria ver um filme... Tem um aqui dentro do DVD do seu irmão... um tal de "Kid Bengala". Será que é de comédia?

Ao descobrir que a obra cinematográfica em questão pertence a outro gênero, saiu esbravejando pela casa:

- Seu irmão é ridículo, um tarado!! Outro dia achei um tal de "Loirinhas- não-sei-o quê" no armário dele!! Só pode ser carma!! Crio um filho com tanto sacrifício pra se tornar esse tipo de homem que só pensa em putaria!!!

Pobre mamy...