domingo, 21 de fevereiro de 2010

O taxista caçador


Voltar pra casa de táxi diariamente foi um conforto adquirido desde que assumi o turno da noite no serviço. Desnecessário dizer que é um luxo! Mas como alegria de pobre dura pouco ou tem restrições, minhas viagens nem sempre são exatamente tranquilas. Isso porque, apesar da sua postura monossilábica ou da sua cara de sono ou de poucos amigos, motorista de táxi que se preze vai SEMPRE puxar um assunto com você.

De comentários sobre o tempo aos resultados da rodada no futebol, o cardápio de temas varia, mas não costuma ultrapassar o limite das amenidades. Todavia, vi que há exceções quando conheci o amigo "caçador". O citado profissional do volante não se contenta em interagir com o passageiro (a). Para o amigo, a criatura a qual conduz no banco traseiro é plateia para um monólogo cujo tema são, digamos, suas perpécias sexuais. E não são poucas! E muito menos comuns. É só história digna de conto erótico vendido em banca de jornal, contadas com riqueza de detalhes.

Na primeira vez que me conduziu para casa, o referido passou a viagem ouvindo atentamente a conversa entre mim e uma amiga da repartição, que comigo dividia o transporte naquela noite. Falávamos de nossas aventuras etílicas por festas dessa vida, nada comprometedor. Detalhe que foi prontamente destacado pelo amigo condutor quando - sem que qualquer gesto de nossa parte desse a entender que caberia ali uma opinião alheia - resolveu se manifestar:


- Vocês são até muito comportadas! Tinham que ver duas que eu peguei outro dia no Cabana do Catonho!

Não, não tínhamos que ver. E achamos que um silêncio seria suficiente para fazê-lo entender o desinteresse. Lêdo engano... Eis que a tal história das bêbadas resgatadas da Cabana do Catonho se estende:

- Uma viu o namorado com outra, e entrou no carro berrando, dizendo que ia se vingar dando pro primeiro que aparecesse. Aí eu gritei: Ôpa!

Já estávamos descendo a Ponte a essa altura da conversa e eu pensei: "Vou chegar em casa antes dele concluir, vou chegar"! Não cheguei.

Virando-se em minha direção (apesar de estar dirigindo), ele relatou:

- A mina tava muito doida, aí! Do nada, levantou a blusa e mandou: "Agora que botei meu silicone o o filho da puta me chifra! Olha meus peitos (pro taxista)! Vê se estão perfeitos".

Ele disse que olhou, é claro (embora estivesse dirigindo). E continuou:

- O final da história você já sabe, né?

Não, eu não sabia. Mas me arrependi de não ter fingido um palpite. Porque ele concluiu:

- Deixei a amiga em casa, ela veio pro banco da frente eu caí dentro ali mermo!

A essa altura, já estávamos (felizmente) na porta do tão esperado destino final, minha casinha. Ansiosa por chegar e me livrar logo do condutor viril, dei um leve tropeção no meio-fio. Foi quando ouvi do cidadão:
- Cuidado! Tá correndo por que? Tem medo de mim?

Não, eu não mereço...