sábado, 26 de janeiro de 2008
As encalhadas do casamento
Ser solteira não é problema. A propósito, já escrevi sobre as vantagens da vida de mulher descompromissada aqui no Musa. O problema é o tratamento que nós, moças livres, recebemos em certos lugares e ocasiões. Percebi isso na festa de casamento de uma amiga, dia desses.
Casamento é aquilo... Vários casais de amigos dos noivos, tias velhas e nós, as solteironas. Somos um tipo facilmente identificável. Ficamos numa mesa grande, só de mulheres, bebendo todas até que o prosecco faça efeito e a gente tome coragem de dançar sem pudores mesmo trajando um vestido longo e um incômodo saltão.
No casamento citado, estávamos eu e mais duas amigas digamos... sem homem. E a nossa intenção de beber todas foi rapidamente detectada pelo garçom, que passou a nos servir de forma mais generosa do que ao resto dos convidados. O negócio é que depois da terceira garrafa de prosecco (isso mesmo, garrafa) deixada pelo rapaz na nossa mesa, notamos que o excesso de gentileza tinha outro motivo: o garçom detectara não só a nossa vontade de beber, mas também a nossa solteirice. E achou, é claro, que poderia sair dali levando um pouco mais do que o cachê.
Foi então que o moço começou a servir mais do que a bebida e uma infinidade de comidinhas. Sorrisinhos, olhares marotos e até umas piscadelas eram distribuídos na mesma proporção. E o que era mais deprimente: para as três. Ou seja: além de conquistar o garçom da festa, ainda tive que encarar a humilhante situação de não ter conseguido exclusividade na conquista.
Mas não terminou por aí. Depois de várias tacinhas do espumante e de mais algumas de uma daquelas batidinhas que derrubam, fomos nós para a pista de dança. E foi lá que nos transformamos em outra subclasse das festas de casamento: os alvos fáceis dos amigos solteirões dos noivos. Quase sempre desinteressantes (afinal, se fossem interessantes não estariam sozinhos e atrás de mulher em festa de casamento), esses tipos ficam na espreita, observando as potenciais companhias (para o momento fim de noite, claro). E depois de fazerem uma investigação prévia com os recém-casados, já chegam chegando. Bêbados, é óbvio. Fui vítima de um.
- E aí? Tá sozinha aqui?
- Tô...
- Eu já sabia. O fulano (noivo) me contou.
Vai catar coquinho, né? Se já sabia, por que perguntou? E continuou o caô, com aquele bafo de birita na minha cara e com a gravata toda desconjuntada. Deplorável...
- Vai sair daqui sozinha se quiser. Não quer se inspirar na noiva e casar também?
Pára tudo! Me pedir em casamento sem nem perguntar o nome? Que falta de criatividade, Jesus!
Mas eu não fui a única "vítima". Quando olhei para o lado, uma das minhas amigas dançava o "Créu" animadamente com um moçoilo enquanto a outra batia um papo animadíssimo com outro, enconstadinha da parede. E os noivos, muito maus, observavam a tudo às gargalhadas. Como diria minha amiga Bruna capistrano... Triste fim.
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