domingo, 27 de fevereiro de 2011

Unidos do Coletivo: o bloco de um dia ruim


O sol raiava e alguns seres humanos já se deslocavam rumo aos blocos nesse calorento domingo pré-carnavalesco no Rio de Janeiro. Eles saltavam lépidos e fagueiros pelas ruas da Zona Sul enquanto eu seguia para aquele outro município, a Barra da Tijuca, com a finalidade de trabalhar. Sonada, meio febril e com um lado da parte interna da minha bochecha mutilado pelo aparelho ortodôntico, não posso descrever como bom humor o que sentia naquele momento.

Na volta, lá pelo fim da tarde (e dos blocos), tomo a inteligente decisão de pegar um ônibus em Ipanema, depois uma viagem que alternava sacolejos e minutos parada em engarrafamentos num 382 sem ar condicionado e cheirando a óleo queimado. Após 1 hora e 8 minutos de espera, (sim, contei), vem o esperado coletivo, já bem cheio.

Pelo menos consegui lugar num daqueles bancos altinhos anteriores à roleta. Já ensaiava um cochilo quando, no ponto seguinte, o coletivo é ocupado por umas duas dezenas de cidadãos embriagados e mal cheirosos, com aquelas caras de fim de bloco. Pra piorar a já desesperadora situação, constatei que os cidadãos era em sua maioria playboys. E a cada ponto o confortável coletivo era ocupado por mais e mais sujeitos e mocinhas com as mesmas características. Alguns identificavam "lesques" camaradas no corredor do coletivo, mesmo a metros de distância. Uma festa:

"Coé, Vitinho! Porra, viado!! Tava aonde, caralho! Peguei duas, porraaaaa!!"

O volume máximo do meu ipod já não era suficiente para me manter alheia à tanta juventude e empolgação. Para completar, o pedacinho de paz ao lado do meu banco é ocupado por um grupo composto por duas patricinhas com caras de calouras de Direito e um bobo alegre, certamente migrante das micaretas.

Na falta de um vendedor de balinhas na área, o sujeito em questão resolveu adotar como o passatempo da sua viagem uma brincadeirinha marota: morder a axila direita de uma das mocinhas com cara de caloura de Direito, que mantinha os braços esticados para se segurar na barra de ferro do coletivo. E enquanto o bobo alegre se ocupava de mordiscar a axila da moçoila, a referida se distraia repreendendo seu algoz aos gritinhos - com voz aguda e esganiçada - seguidos de um "ai, seu chatooooo". E as mordidas seguidas pelos berros estridentes se sucederam até Niterói, onde desembarquei aliviada e ansiosa pra tomar um banho, me esticar na cama e ver o Oscar. O dia ruim havia acabado. Pelo menos foi no que eu acreditei até chegar em casa e descobrir que havia um lado da minha rua sem luz. Adivinhem qual era?



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mamy e suas convicções


Não sei se já contei aqui, mas mamy cultiva um péssimo hábito. Na verdade (quem é leitor no Musa sabe), ela cultiva vários hábitos ruins, mas abordarei neste relato o que mais me incomoda: o de contar podres do meu passado a qualquer incauto que apareça aqui em casa e se aventure a engatar com ela um papo.

Ocorre, porém, que apesar dos indícios que apontam o contrário, meu passado nem é tão negro assim. Muito boa aluna na escola, não-usuária de narcóticos e virgem até idade avançada pros padrões da época, considero ter sido, quando jovenzinha, o que se convencionou chamar "uma boa moça". O negócio é que até as boas moças cometem lá seus deslizes. E o meu foi cair de amores por um sujeitinho de índole duvidosa, que viria futuramente a ser o pai biológico do meu rebento.

E foram esses citados desvios de conduta - a paixonite pelo vadio e a consequente prenhês do mesmo - que fizeram mamy me condenar, sem direito à fiança, a ouvir essa história ressuscitada a cada discussão como argumento para me penalizar ou para mostrar aos meus convivas o quanto ela - e todos com quem tenho laços consanguíneos - sofreram:

- Ela já fugiu de casa com a roupa do corpo pra viajar com ele. O pai chorava feito criança, relatou dia desses para a amiga Andréa.

Todavia, creio que o objetivo maior de mamy ao descrever esses lapsos da minha juventude com pormenores dos quais sequer eu me lembro - até porque já se foram uns 15 anos desde o acontecido - é mesmo o de se vangloriar. Afinal, o desfecho feliz que a história teve, uma vez que um dia me curei da paixonite pelo tal moçoilo, só ocorreu graças a quem? Sim, a ela mesma. Mamy!

Mas como? Perguntarão os incautos leitores. Pois lhes respondo reproduzindo aqui as palavras da minha própria "salvadora":

-Muita macumba, meu(a) filho(a)! Ah, se eu não tivesse apelado pra todos os meus santos...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pra quem "ama" o verão

Tem gente eu foca na praia, showzinho no Arpoador e eventos, modismos... Mas pra mim, verão no Rio é sinônimo de acordar no meio da madrugada com o pescoço empapado de suor; de ter a pressão arterial próxima de zero e um estado quase constante de letargia; de não conseguir tomar um banho frio porque a água do chuveiro é sempre quente e de estar sempre com aquela cara brihando sem nenhuma dignidade.

E se o calor intolerável não é argumento pros insanos que insistem em dizer que "amam o verão", apresento o derradeiro: o verão é a estação dos infernais hits baianos. Fiquem com o de 2011 e pensem nisso.

http://www.youtube.com/watch?v=-DR6TIc4Z-4