quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

E aquele playboy gatíssimo com quem você tinha um flerte nos áureos tempos de jovem estagiária agora se apresenta paramentado com um terno estilo pastor e passa o dia a postar salmos bíblicos no Facebook. Só Jesus!

domingo, 21 de outubro de 2012

Mamy e o namorado da vizinha

Mamy, como sabem, é verborrágica. Todavia, a facilidade que minha progenitora tem para verbalizar suas impressões sobre o mundo e as pessoas é inversamente proporcional à capacidade de perceber quando o receptor não está, digamos, disponível para receber a mensagem.

Estava eu absorta em uma leitura e com as orelhas adornadas por gigantescos fones brancos, tipo aqueles do Neymar, quando Mamys adentra bruscamente o meu quarto para desabafar. Com aquele olhar vibrante dos que acabaram de fazer uma fantástica descoberta, ela começa:

- Já descobri por que aquele cara bonitão namora a Beltrana (vizinha). Ele é gay!

Mesmo consciente de que não deveria, perguntei como ela chegou a tão brilhante conclusão.

- Foi só juntar as coisas. Primeiro, ela me disse que não liga pra sexo, que tava com ele só pra ter companhia. Ainda agora cheguei lá e o cara tava lavando a louça enquanto ela tomava cerveja na sala. Vai dizer que não é estranho?

E triunfante, conclui:

- Se tem uma coisa que eu conheço é ser humano. Aquele namoro ali é grupo.



sábado, 6 de outubro de 2012

Um fã: segundo capítulo


No post anterior, vocês souberam que eu já tive um fã. Faltou contar, porém, que ele era tão meu fã que me mandou um segundo email, ainda mais, digamos, incisivo. Claro que não poderia deixar de compartilhar. Preparem-se: é quase um conto erótico desses comercializados em banca de jornal. Também destaquei as minhas transgressões gramaticais e passagens favoritas. Coraçãozinho com as mãos pro meu fã!

Querida Thatiana,
respondendo suas perguntas
Não é trote. Eu consegui o seu e-maio pelo seu blog. Agora que as suas perguntas foram respondidas eu gostaria de saber doce e meiga Thatiana (tati) se eu terei a honra de conhecer melhor a mulher tati, o carater o ser humano, conhecer seu coração melho etc... Engraçado você não vai acreditar pois eu tb demorei para acreditar. Eu acho engraçado como nosso subi inconciente trabalha, Eu sonhei com você noite passada e durante este sonho nós estavamos juntos eu estava com meu coração disparado igual a um adolecente e quando nos 2 nos beijamos  claro no meu sonho eu fui a marte e voltei e quando nos 2 iamos nos entregar um ao outro pela pimeira vez o dia estava amanhecendo e eu fui acordado por uma batida enfrente ao condominio onde moro. 

Como é engraçado as coisas, eu fico meio assustado como as coisas estão acontecendo , será que é carencia? Eu não deveria te contar isso mais fui obrigado o meu coração quando eu fui acordado com o barulho da batida ficou completamente desiludido e como ele (meu coração) precisava se desabafar com alguem foi se desabafar com meu pulmão e esse como bom fofoqueiro que é foi correndo contar para o meu cerebro e esse vendo o coração no estado que se encontra hoje mandou ordens (sençassões para os meus dedos colocarem tudo o que acontece com o meu coração em forma de palavras, frases para vc saber o que acontece com um homem que te viu apenas 1 vez mais ja se flagrou sonhando com você.

Engraçado, eu sempre tive total controle de todas as minhas votades e desejos mais isso está sendo surpresa até mesmo pra mim. Será que isso tem haver com algum relacionamento que tivemos em outras vidas? Será que eu estou ficando maluco? Thatiana eu não sei o que está acontecendo comigo mais vou te confeçar mais uma coisa eu estou adorando.

Será que um dia vou ter a chance de sair do virtual para converçar com vc olhando nos seus olhos e vendo o brilho e viajando nas suas palavras. Será que é caso para camisa de força? Eu não sei com toda a minha experiencia com a medicina eu não tenho um diagnóstico.Qual diagnóstico que a Dra. Thatiana pode chegar deste acontecido com este servo que vos fala em relação a Dra. Thatiana? Será que a Dra. vai querer estudar melhor o caso com consultas diárias?

Bom doce Tati me entrego as tuas mãos
Beijos
seu

Considerações à parte, o que até hoje me intriga é: o sujeito me viu uma única vez, vez essa na qual eu me encontrava embriagada no 100, falando alto, com a maquiagem escorrida e me insinuando para um caboclo. Em seguida, descobriu meu paradeiro lendo um blog de relatos pessoais dos mais escabrosos intitulado Musa de Caminhoneiro. De onde esse cidadão tirou que eu sou 'doce'?

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Um fã


Caros leitores, a máxima "há coisas que só acontecem comigo" é repetida à exaustão por todo ser humano, uma vez que tendemos a acreditar que alguns entreveros, por terem natureza tão absurda, não podem ocorrer com frequência na sociedade. O episódio que irei relatar no post é um deles. Ao final da leitura, você aí pode até tentar me convencer de que já foi vítima de algo semelhante, mas afirmo: duvido!


O fato a seguir data da minha já quase longínqua juventude, período no qual eu me embrenhava pela Cidade Maravilhosa em busca de aventuras e tinha muita saúde e pouquíssimo dinheiro, o que me levava a retornar ao lar a bordo de coletivos, vulgo ônibus. (Leia o post 'Se eu perder esse 100' e entenda melhor)

Em um desses retornos no eficiente coletivo 100, (não me lembro exatamente de qual empreitada) flertava com um bem apanhado moçoilo que viajava ao me lado. Desinibida, como costumam ficar as moçoilas embaladas pela bebida destilada de nome vodca, desembestei a exaltar minhas inumeráveis virtudes para o citado caboclo, usando como principal intrumento de marketing este bem-sucedido espaço literário, o Musa de Caminhoneiro.

O que eu não imaginava na ocasião é que estava mirando num alvo e acabaria acertando outro. Quando passei o endereço do meu aclamado blog para o moço bem apanhado, um outro caboclo, que me espreitava à revelia e ouviu todo o diálogo, se aproveitou da informação para me caçar no mundo virtual. Achou o Musa e consequentemente, meu email. Decidido a me seduzir, enviou-me um ousado correio eletrônico intitulado "Um fã", o qual vocês podem ler, ipsis litteris, logo abaixo:


Cara Musa, Meu nome é Joseph, numa destas madrugadas eu tive meu carro roubado e na volta da delegacia onde fiz o BO eu peguei o 100 para retornar a minha casa e para a minha surpresa vc estava neste mesmo onibus, vc estava com um amigo que estava mais pra lá do que pra cá e fiquei te obiservando, voce me chamou a atenção. Eu gostaria muito de te conhecer melhor. Vou falar um pouco de  mim: sou oficial médico, atualmente no corpo de Fusileiros (Marinha), sou apesar da pouca idade (32 anos) sou viuvo.Minha mulher morreu gravida num acidente de carro. Bom isso ja faz 3 anos e 5 meses.Foi uma falidade mais faz parte do nosso ciclo que é nascer, crescer viver e morrer.Bom vamos falar de coisas alegres, sou solteiro, não tenho filhos, sou oficial médico do corpo de fusileiros da Marinha do Brasil

vou tentar me descrever: Branco Calcasiano, 1.85 de altura, cabelos loiros, olhos verdes, estou no melhor de minha forma pois procuro me cuidar muito pois  me amo, não me violento e muito menos me prostituo sou fiel a mim e ao meu coração, não carrego barreiras entre o meu coração e as minhas cordas vocais, quando tenho tempo eu gosto de cinema, teatro, shows, barzinhos, bares com musica ao vivo, viajar, voar de asa delta, pegar onde de prancha ou jet ski, malhar, correr na praia, uma boa leitura, um bom filme no cinema ou um bom dvd em casa, velejar, mergulhar para tirar fotos subimarinas, sair com minha moto no verão apesar de ter carro tb, sair ir com uma turma animada ao entardecer na praia com um violão e fazer uma bagunça, sair para dançar etc... Adoraria ter a oportunidade de te conhecer converçar resumindo conhecer os anceios de seu coração e conhecer mais da mulher,reporter, caráter etc...

Branco caucasiano, não se prostitui, é proprietário de um carro e de uma moto, não tem barreiras entre o coração e as cordas vocais... como pude ter deixado um caboclo desse quilate escapar? E ele tão a fim de conhecer meus 'anceios'...




quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A paixão secreta de Dona Ana*


Ana é uma senhora que conheci em Diamantina. E eu, que tenho gosto por casos engraçados (ou por dar essa conotação a eles) decidi relatar a história de Ana, quase um drama de folhetim, por subverter uma das minhas maiores convicções: o medo de envelhecer.

Ana tem 75 anos e mora em Belo Horizonte. Há 55 anos se casou, como se casavam naturalmente as meninas da geração de Ana. E como também acontecia com a maioria das meninas daquela época, Ana se casou sem amar o marido. A menina, porém, tinha uma paixão. E não era pelo Robert Redford ou pelo Paul Newman,  era uma paixão concreta... pelo cunhado. Ana, pobrezinha, caiu de amores pelo irmão do marido.

Tudo aconteceu bem antes do casamento. Ana, cunhado e marido faziam parte do mesmo grupo de jovens amigos na então (bem mais) provinciana BH. A paixão pelo cunhado, um cara do tipo aventureiro e sonhador, a arrebatou de primeira, com tudo. Mas não havia nenhum sinal de sentimento recíproco por parte do amado. Ironicamente, os galanteios que Ana esperava ouvir vieram do irmão dele. Galanteios que logo evoluíram para um objetivo pedido de casamento, que significava para Ana uma promessa de estabilidade e segurança que o amado (que havia partido sem previsão de retorno para um trabalho no canal de Suez) não poderia e nem parecia querer oferecer a ela. Disse sim. Como diria sim a maioria das mocinhas de sua época.

Anos depois, o cunhado voltou para o Brasil. Ana, que já era mãe do primeiro filho, achou que havia superado a paixonite adolescente. Enganou-se. Quando reencontrou o cunhado, ficou sem ar, as pernas bamberam, perdeu a fala... enfim. Manifestou todos aqueles sintomas de semimorte que felizmente todas nós conhecemos. Ainda era elouquecidamente apaixonada pelo agora irmão do pai do seu filho. E o mais desesperador: notou que ele a olhava com a mesma intensidade. Mas deveria ser impressão dela, só podia. “Que coisa mais descabida, imagina!”

Não era. Um dia, sozinho com a cunhada, ele se declarou. Disse que fora embora para Suez pensando nela, mas abriu caminho para o irmão mais velho, por notar que ele poderia dar a ela uma vida mais confortável e segura. Se contiveram naquele dia, mas não deu pra segurar por muito tempo. Dias depois, se beijaram quando ele foi à casa dela sob o pretexto de consertar uma bicicleta. Transaram na garagem mesmo, “pra não desrespeitar o lar onde vivia com o marido”.

E assim seguiram por muitos anos. Encontros às escondidas, beijos roubados atrás de portas nas festas da família... até que o cunhado se casou. Ana sucumbiu a uma depressão tão profunda que adoeceu. Contraiu uma tuberculose que a deixou dois meses internada, quase morta. Só começou a reagir quando o cunhado apareceu no hospital e disse que eles seriam sempre um do outro. Não importaria com quem estivessem oficialmente juntos. E mesmo que não ficassem fisicamente juntos.

Pelo que consideravam “o bem de todos”, decidiram se afastar. Criariam seus filhos, tentariam ser felizes em seus casamentos. Antes da separação, no entanto, Ana decidiu guardar uma lembrança do amante. Se certificou de que estava no periodo fértil e propôs uma “despedida”. Palpite certeiro! Além de uma paixão secreta, Ana teria uma filha do irmão de seu marido. “A cara dele, a minha menina”, conta com aquela empolgação típica dos apaixonados. A menina de Dona Ana tem hoje 30 e poucos anos. Não soube quem era seu pai biológico até começar a se envolver com um dos filhos dele, seu primo-irmão. Dona Ana, como numa cena que imaginamos só acontecer em novelas, se viu então obrigada a revelar seus maiores segredos para a filha: ela era filha do tio. E eles ainda mantinham um caso (apesar das inumeráveis tentativas de afastamento).  Os outros dois filhos de Dona Ana não sabem de nada. Nem o marido traído. Ou finge não saber. Para Dona Ana, ele se faz de morto para não ter que romper o casamento e entregar a mulher de bandeja para o irmão malandro.

E como terminou essa história? É o que devem estar se perguntando. Pois não terminou. Dona Ana e o cunhado quebraram recentemente mais uma promessa de afastamento em um encontro vespertino furtivo em um motel de Belo Horizonte. Ela tem 75 anos. Ele, 78. E eles ainda têm encontros furtivos em motéis.

Me apaixonei por Dona Ana.

*Nome fictício 

domingo, 12 de agosto de 2012

Mamy na Zona Norte


Em um post anterior, relatei uma breve passagem do que foi o doloroso processo de mudança da família da bucólica e elitizada Niterói para a Zona Norte do Rio de Janeiro. Mamys, a nossa eterna protagonista, sofreu feito um cão abandonado. Frases como "Não tenho mais idade para recomeçar" e "Vou acabar tendo um troço e morrendo de depressão" eram entoadas com frequencia.

Porém, assim como o carnaval para os Los Hermanos, todo drama para mamys tem seu fim. E no presente momento a minha idiossincrática progenitora está, por assim dizer, soltinha no bairro no qual viemos residir. Pop como ela só, mamy é solicitada para eventos, frequenta a quadra do Salgueiro, circula por todos os bares e já faz análises da baixa gastronomia local com embasamento(o caldo de siri do Pinheirão é o melhor da Vila).

Mamys, todavia, nunca está plenamente satisfeita com esta vida ingrata. E dia desses chegou em casa num estado preocupante de revolta. O motivo: incompatibilidades com os "incultos" habitantes da Grande Tijuca.

- Esse lugar aqui... tem jeito, não. Eu até me divirto, mas não dá pra firmar boas amizades.

Intrigada, pergunto o que há de tão repugnante nas criaturas que só fazem paparicá-la e convidá-la pros sambas, feijoadas e bailes no estilo flash back.

- Povo ignorante! Ninguém viaja, ninguém vai pra Região dos Lagos. Só querem saber de bar! - esbravejou indignada esta jetsetter de São Gonçalo, que só põe os pés em estabelecimentos do tipo de 3 a 4 vezes por semana.

E talvez por ter percebido que eu não concordava com tal ponto de vista sobre os novos vizinhos, arrematou:

 - Não posso morar num bairro onde ninguém conhece Ferreira Gullar!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Mamy nas festividades de fim de ano


Mamy entrou no meu quarto às 8h da madrugada pedindo a módica quantia de 10 dinheiros. "Pra comprar umas coisinhas", justificou. E lá foi ela, lépida e fagueira. Retornou há pouco, quase 3 da tarde, trazendo em mãos 2 DVDs notadamente adquiridos no comércio ambulante: um do Michel Teló e outro do Seu Jorge.

Diante da minha expressão de horror ao constatar que meu suado capital fora empregado naquele lixo, se apressou em explicar o porquê da aquisição: Mamy participará do amigo oculto da Associação de Moradores e Amigos do Morro do Estado. E os citados DVDs foram os presentes escolhidos pela sujeita que ela tirou.

Que alívio, minha gente! Mamy tem lá sua personalidade peculiar, mas o máximo de mau gosto musical que já manifestou foi um apego pelo Exaltasamba. Minha progenitora, creiam, tem vinis do Led Zeppelin guardados como um tesouro! O bom gosto musical, porém, não se estende aos eventos aos quais frequenta. Afinal, imaginem o nível de um amigo oculto cuja participante pede de presente esse tipo de produto?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mamy e a mudança

Mamy, essa pitoresca criatura humana, passa por uma fase difícil. Se bem que a palavra "fase" não se aplica muito a mamy nesse caso, uma vez que minha progenitora se considera a mais desafortunada das criaturas desde que veio ao mundo, lá por meados dos Anos Dourados. A verdade é que mamy, assim como aquela hiena da Hanna Barbera, gosta de reclamar da vida.

E um acontecimento recente em nossas vidas tornou-se para mamy um prato cheio para essa prática que tanto aprecia: fomos intimidos a deixar o imóvel em que moramos. A casa deverá ser devolvida ao proprietário graças a um imbróglio de herança. Mas para mamy, a justificativa jurídica é pura balela! Nosso despejo, óbvio, é resultado de uma teoria conspiratória do proprietário, da mulher dele ("aquela maluca"), da imobiliária e do mundo com o intuito de, por assim dizer, ferrá-la.

- Quero tirar essa história a limpo, esse negócio de herança tá muito estranho, esbravejou mamy, já ameaçando: - Se eu passar pro aqui depois e tiver outra pessoa morando, vai dar merda!

Mas os ataques de fúria não duram muito. O que mamy gosta mesmo é da prática da vitimização:

- Não consigo mais dormir com essa história da mudança. Estou com taquicardia! Acordo deprimida todos os dias.

E foi pior eu argumentar que a taquicardia deveria ser minha, afinal, é do meu bolso que sairá a grana do aluguel certamente mais alto. Tive que ouvir uma lição de moral digna de personagem abnegado de novela.

- Pra você, tudo se resume a dinheiro!


Na tentativa de aplacar-lhe os ânimos, convidei mamy para me fazer companhia em uma conversa com o advogado sobre os trâmites legais da recisão do contrato. Quem sabe explicações mais didáticas a demoveriam da ideia de que tudo não passa de implicância da mulher do proprietário, "aquela maluca"?


Não foi a melhor das ideias, leitores. Mamy não só saiu do escritório ainda mais convencida de que somos vítimas de uma maquiavélica conspiração como me deixou em situação de absoluto constragimento na pequena salinha. A chacota começou logo que adentramos o recinto. O advogado não havia chegado ainda e a notícia do atraso foi transmitida por um subalterno, sujeito que mamy simplesmente não suporta. O protesto foi veemente:

- Minha filha trabalha, não pode esperar! E eu não tomei nem meu café pra chegar aqui cedo! Isso é muita irresponsabilidade!

Tentei pedir calma, afinal, eram só 10 minutos de atraso. Mas fui interropida por outra lamúria:

- Ainda tenho que olhar pra cara desse escroto!

É pertinente ressaltar que mamy falou alto, que o escritório possui dimennsões reduzidas e que o "escroto" em questão certamente ouviu o sutil comentário.

A chegada do advogado foi tensa. O homem justificou o atraso dizendo que tivera uma crise de hipertensão. No que mamy concluiu (também em voz pouco baixa):

- Também, obeso desse jeito!


E se vocês já estão com dó de mim, não imaginam o que eu passei durante a nossa conversa com o profissional de Direito. Primeiramente, o referido tentou explicar que deveria notificar a locatária, no caso minha tia, para formalizar a recisão. No que mamy logo retrucou:

- Sou irmã dela, pode falar comigo mesmo.

O homem (com paciência inexplicável) insistiu que tratava-se de um indispensável trâmite legal e perguntou se a minha tia, a locatária, ainda é viva. Ocorre que o coitado não sabe, mas titia, coitada, foi acometida por um grave problema de saúde recentemente. Embora já esteja em franca recuperação, mamy se apressou em responder:

- Viva ela é, mas tá quase morrendo.

Prevendo que a pressão do advogado desta vez, sim, subiria a ponto de matá-lo, mandei mamy calar-se e perguntei se havia um modo de notificar titia sem exigir dela um esforço físico. O pobre tentou me explicar, mas foi novamente interropido por uma debochadíssima questão de mamy:

- A casa do vizinho também pertence aos proprietários da minha. Mas eles tavam fazendo festinha no domingo. Achei estranho, né? Receber notificação de despejo e fazer festa? Ou eles não receberam?



Mais uma vez o pobre homem explicou o imbróglio. E generoso, coitado, ainda comunicou que havia um imóvel disponível, caso nos interessássemos. Só havia um porém: era localizado no inóspito bairro de Alcântara, município de São Gonça. Até aí mamy até se conteve. Mas sugerir uma casa em Gonça era ferir demais o orgulho dela:

- Alcântara, aquele lugar horrível? Minha filha é jornalista, meu filho. Querem me despejar, tudo bem! Mas me arranjem um lugar decente pra morar!

Já a sós comigo no elevador, se despediu com essa:

- Com essa gente é assim! A gente não pode perder a pose!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Se for dançar, só malhe o glúteo


Em novo horário na labuta, perdi um privilégio adquirido quando saía da firma na hora em que a carruagem vira abóbora: ser conduzida pra casa diariamente por um confortável táxi. Nos primeiros dias foi deveras sofrido. Até redescobrir o trajeto ideal da inóspita Barra da Tijuca a Niterói, bucólico município vizinho onde resido, enfrentei entreveros como sacolejar em pé num lotado ônibus do metrô - que a empresa, numa manobra caozeira, batizou de "metrô na superfície"- e ser encurralada no banco do coletivo por uma obesa que, não satisfeita em se empanturrar com uns biscoitos fedorentos, fez o jogador do Flamengo e soltou, sem pudores, ininterruptos flatos durante a viagem.

O ser humano, todavia, se acostuma a tudo que é sacrifício (taí a mulher do Michel Temer que não me deixa mentir). E eu posso garantir-lhes que não só estou resignada com as viagens diárias como passei a ver até certa graça, analisando meus companheiros de viagem de forma, digamos, sociológica. Na noite de hoje, por exemplo, tirei até meus fones de ouvido pra ouvir as conversa de uma moçoila que fez um sem número de ligações no trajeto Princesa Isabel-Icaraí a bordo da van. Os papos iam de informação sobre a localização ("Tô na Ponte, porra") à confirmação de um camarote na Ita Show com um amigo, carinhosamente chamado de "sua bicha":

- Conseguiu o vip, né, sua bicha? Não sou mulher de ficar espremida, não!

E ainda tem esse detalhe, senhores... a referida embarcou na Princesa Isabel (uma rua de Copacabana composta por estabelecimentos dedicados à prática do meretrício, esclareço para os não-cariocas). E a conclusão imediata de que a moça era uma das profissionais do logradouro pode parecer preconceituosa da minha parte, afinal, também embarquei na Princesa Isabel. Mas se vocês vissem a distinta, haveriam de concordar.

E se o figurino (e o fato de ela ter saído de um do prédio acima da Boite La Cicciolina munida de uma malinha) não eram suficientes pra minha constatação, transcrevo pra vocês o trecho de uma conversas via Nextel:

-E aí, marida? Tô chegando, hein! (...) Então, menina! Amanhã você vai malhar comigo, vamo malhá só perna. Ontem não deu pra malhar perna, só malhei glúteo! (...) Preguiçosa nada, piranha! Quando eu malho perna não consigo dançar! Malhando só o glúteo, fico descansadinha e dou show".

Tão vendo? Foi só relaxar na viagem e manter os ouvidos atentos pra aprender essa valiosa dica para performances.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Cena noturna

No Pão de Açucar, vejo o caixa preferencial sem nenhum velhinho na fila e me dirijo até ele pra pagar meu miojo e 1 garrafa de vinho barato. Em seguida, chega uma moça, mais deteriorada fisicamente do que exatamente sexagenária. E a caixa pra mim:

- Senhora, esse caixa é preferencial pra idosos. Ceda o seu lugar à senhora atrás de você
No que a referida retruca:

- Que senhora, minha filha? Idosa é o cacete.