terça-feira, 20 de setembro de 2011

Se for dançar, só malhe o glúteo


Em novo horário na labuta, perdi um privilégio adquirido quando saía da firma na hora em que a carruagem vira abóbora: ser conduzida pra casa diariamente por um confortável táxi. Nos primeiros dias foi deveras sofrido. Até redescobrir o trajeto ideal da inóspita Barra da Tijuca a Niterói, bucólico município vizinho onde resido, enfrentei entreveros como sacolejar em pé num lotado ônibus do metrô - que a empresa, numa manobra caozeira, batizou de "metrô na superfície"- e ser encurralada no banco do coletivo por uma obesa que, não satisfeita em se empanturrar com uns biscoitos fedorentos, fez o jogador do Flamengo e soltou, sem pudores, ininterruptos flatos durante a viagem.

O ser humano, todavia, se acostuma a tudo que é sacrifício (taí a mulher do Michel Temer que não me deixa mentir). E eu posso garantir-lhes que não só estou resignada com as viagens diárias como passei a ver até certa graça, analisando meus companheiros de viagem de forma, digamos, sociológica. Na noite de hoje, por exemplo, tirei até meus fones de ouvido pra ouvir as conversa de uma moçoila que fez um sem número de ligações no trajeto Princesa Isabel-Icaraí a bordo da van. Os papos iam de informação sobre a localização ("Tô na Ponte, porra") à confirmação de um camarote na Ita Show com um amigo, carinhosamente chamado de "sua bicha":

- Conseguiu o vip, né, sua bicha? Não sou mulher de ficar espremida, não!

E ainda tem esse detalhe, senhores... a referida embarcou na Princesa Isabel (uma rua de Copacabana composta por estabelecimentos dedicados à prática do meretrício, esclareço para os não-cariocas). E a conclusão imediata de que a moça era uma das profissionais do logradouro pode parecer preconceituosa da minha parte, afinal, também embarquei na Princesa Isabel. Mas se vocês vissem a distinta, haveriam de concordar.

E se o figurino (e o fato de ela ter saído de um do prédio acima da Boite La Cicciolina munida de uma malinha) não eram suficientes pra minha constatação, transcrevo pra vocês o trecho de uma conversas via Nextel:

-E aí, marida? Tô chegando, hein! (...) Então, menina! Amanhã você vai malhar comigo, vamo malhá só perna. Ontem não deu pra malhar perna, só malhei glúteo! (...) Preguiçosa nada, piranha! Quando eu malho perna não consigo dançar! Malhando só o glúteo, fico descansadinha e dou show".

Tão vendo? Foi só relaxar na viagem e manter os ouvidos atentos pra aprender essa valiosa dica para performances.

6 comentários:

Ida disse...

Gostei do blog, Musa! Primeira visita já me rendeu gargalhadas!

Eu, que mudei o endereço do trabalho há seis meses (passei anos da minha vida me mandando para a Usina, no contrafluxo), também estou obtendo precioso material para pesquisa antropológica: nova sede na CENTRAL DO BRASIL. Te digo que nos orelhões "defronte" o bucólico prédio onde exerço minhas atividades laborais há cartazes expondo MOÇAS cujas qualidades mais simples são "Fulana, quase mulher".
A concorrência tá flórida!

Musa de Caminhoneiro disse...

Se eu passasse um mês trabalhando na Central, acho que escreveria um livro. hahaha

Mari disse...

Um post digno do meu falecido "Nóis de buzum". Senti saudade agora!

Cheshire cat disse...

Hahaha, eu até fiz um blog (tá beeem abandonado) chamado "Ouvi por aí". Conversa de ônibus é um riqueza só.

Anônimo disse...

Uma vez me tentaram vender produto pra escova progressiva no ônibus, juro. Detalhe que meu cabelo é geneticamente liso, e o joselito chega todo pimposo pra vender o treco.

Cesar disse...

Adorei! Muito espirituoso e bem escrito! :-)