O micareteiro
No começo ele era como os outros. Lindo, gentil, interessante...Se referia a mim como "amor da minha vida" e outros clichês do gênero que, apesar do lugar comum, sempre funcionam. Mas o final dessa história não poderia ser mais desastroso: o referido sujeito me trocou por uma micareteira num carnaval em Salvador!
Ele era policial da Core (odeio policiais, mas abri uma exceção). O conheci na época de repórter, quando cobria uma incineração de drogas no Aeroporto do Galeão (não consigo me acostumar a chamar de Internacional Tom Jobim). Ele estava no grupo que fazia a segurança do secretário de segurança (desculpem, mas não achei um sinônimo para segurança).
Cheguei atrasada na pauta- o que sempre acontecia no jornal de ótima estrutura em que trabalhava- e fui pedir uma informação a ele. Juro que o escolhi aleatoriamente. Tudo bem, o cara era gato. Mas quem é do Rio sabe. A Core é composta por homens gatos. Aliás, gatíssimos. O que significa que se tivesse adotado o critério beleza pra escolher minha fonte, teria pedido informações aos 20 que estavam lá. Enfim, foi ele...
Embora fosse impossível ignorar que a minha fonte era um belo exemplar da espécie, estava tensa por ter me atrasado, por ainda ter duas pautas pra apurar, enfim...Sem clima pra puxar qualquer assunto que não fosse o diabo da informação de que precisava pra matéria. E foi justamente isso que intrigou o rapaz. Acostumado a ouvir com freqüência todo tipo de cantada, ele deve ter se sentido ofendido quando uma moça se aproximou dele apenas pra perguntar se "estavam incinerando só maconha ou havia cocaína também".
Acho que mexi mesmo com o ego do rapaz. O fato é que me ligou três dias depois. E antes que pensem que eu dei meu cartão ou coisa assim, acreditem: ele descobriu sozinho! Viu meu nome no crachá, ligou pra redação é pediu. Tava muito afim de mim, né? Pois é...Era o que parecia, até o bendito carnaval.
Depois do tal telefonema, começamos a sair. Como já havia dito, o homem prometeu amor eterno e outras bobagens que a gente acredita quando quer. Era um doce e razoavelmente inteligente, embora insistisse em colocar um maldito cd do Asa de águia (urgh) no som do carro. A trilha sonora acabava com o meu humor, e ele percebia. Talvez por isso, não tenha me convidado pra ir passar o carnaval com ele em Salvador.
Tá certo! Eu não poderia ir porque estava trabalhando. E porque odeio axé e trio elétrico! Mas ia gostar de ser convidada...Até pra dar uma de liberal! "Não posso, querido, estou de plantão. Mas não se prenda por minha causa. Vá e divirta-se. Fico te esperando"
A última frase ao menos eu tive o gostinho de falar, quando ele me ligou horas antes de viajar dizendo que me "amava". Achei tão convincente que decidi, seguindo o conselho da minha amiga Flavinha Risso, ignorar que ele iria beijar várias e recebê-lo de volta na quarta-feira com "cara de paisagem". Afinal, pegação de carnaval começa e termina no carnaval, não é mesmo? Sim, quando trata-se de outras pessoas. Mas como era comigo...
O fato é que o cidadão voltou de viagem, me ligou e disse que tinha conhecido uma mulher no bloco do Chiclete (urgh), ela era do Rio, morava no bairro dele (olha só!!) e a coisa teve um happy end. Agora digam: sou ou não um ser azarado no quesito amoroso? Só um ser azarado tem um peguete empolgadíismo, quase a seus pés, que conhece uma mulher da mesma cidade ( e do mesmo bairro) no carnaval da Baía e resolve levar a frente um romance de carnaval! Aaaaaaaaaa
Bem, mas como dizia meu ex-chefe Celso Junior... "melhor dar azar do que dar a Zé". Certamente, não teria muito futuro com um sujeito que escuta Asa de Águia no carro e compra abadá pro Chiclete. Definitivamente, não perdi muita coisa...
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
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6 comentários:
Tathi, procure alguém que aprecie Elymar Santos. Vc correrá menos risco. Ah, e sempre duvide dos empolgados em excesso. Quem se empolga fácil, se desempolga mais fácil ainda! ;)
O lance, o esquema, o "ó do borogodó" que faz o homem conquistar a mulher se resume a perceber o que ela quer... E dizer o que ela espera. Fácil, simples e sem maiores delongas. Lamento mas você foi traída por sua própria feminilidade.
Olha Tatinha, o jeito é acrescentar o critério musical no seu "funil" para evitar dissabores tardios. Chiclete com Banana e abadá são o ó do borogodó mesmo.
Sei não... se eu fosse vc ou escolheria melhor ou então começaria a ensaiar umas coreografias para o próximo carnaval. Detalhe, eu namorei quase cinco anos uma menina que conheci no carnaval :))
Ótima história, amiga ;-)
Chicleteiro? Simplesmente agradeça por ter se livrado dessa praga
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