terça-feira, 28 de novembro de 2006

Onde foi parar o bom-senso?


Depois da edificante declaração de Nana Gouvêa- já comentada aqui- achei que não faltava mais nada para o fim dos tempos. Até abrir a Revista de domingo do Globo (que por sinal, é uma bosta) e dar de cara com uma "matéria" com um tal de Reinaldo Lourenço. Estilista, ele exibia aos leitores um pouco do seu estilo de se vestir. A seção, intitulada "Entrando no Armário" (mas que pelo naipe do figura, deveria ter sido rebatizada de "Saindo do Armário"), começava bem.

"Reinaldo Lourenço (???), a mulher Gloria Coelho (???) e o filho Pedro (?????????), cada um com seu estilo, formam a família mais fashion do Brasil."

Família mais fashion do Brasil?? Ah, tá! No texto, detalhes que justificam o título, tão relevante em terras tupiniquins.

"(...)Criou uma coleção chamada Um sonho de Valsa(...)"

"(...)No guarda roupa pessoal também é o rei do mix. A calça é justa e foi comprada numa loja de moda punk em Paris(...)"

"(...)Acalmou o punk com a clássica camisa branca Dior, na qual John Galliano não perdeu a oportunidade de bordar uma libélula negra, símbolo da monarquia."

E continuava...

"Posou de Dior da cabeça aos pés, no apartamento da amiga Bya Aydar" (famosa quem???) explicando:

-Não faço mais coleção masculina. Ultimamente, tenho vontade de vestir camisa branca e de usar peças clássicas de forma contemporânea. A fantasia está no jeito que componho meu look- afirma Reinaldo, dirigindo a foto.
-Pode me fotografar aqui, na frente desta porta, fica mais aristocrático.

Aristocrático? Pois é...

Numa hora dessas é que eu concordo com o ex-chefe de polícia Hélio Luz, quando dizia que se o Rio fosse mesmo violento, peruas não fariam compras no Fashion Mall enquanto mortos de fome armados observam tudo da Rocinha. Ainda bem que não tenho ímpetos homicidas...caso contrário, não sobraria um aristocrático de Dior pra contar a história.

Outro caso emblemático de escrotidão explícita é o de Suzana Vieira. Mais nova "gatinha" do pedaço, deu uma surtada depois de uma sucessão de lipos, botox e drenagens linfáticas. Retrocedeu à adolescência! É flagrada em bailes funk dançando chão-chão-chão com figurinos, digamos, não muito adequados a uma senhora já vovó. Não satisfeita, casou-se com um soldado PM (que era segurança da Grande Rio)!!! e apresenta o digníssimo como se fosse a última coca-cola do deserto.

São freqüentes suas aparições em Caras e outras publicações do gênero proferindo clichês do tipo "tenho que me proteger da inveja" ou "ter marido bonito e gostoso incomoda", como se a ambição de toda mulher fosse fisgar um soldado PM, ex-segurança da Grande Rio, e que usa correntes de ouro com pingente de inicial.

Outro prazer de Suzana (quem será a besta do assessor de imprensa dessa sujeita)? é relatar- com detalhes picantes- a rotina sexual vivida com o cônjuge PM. Não é raro ver estampado na capa dos jornais Extra, Meia Hora- e outros veículos lidos pelos usuários da Supervia- manchetes como: "Marcelo revela: Suzana é insaciável." Ou "Suzana Vieira em eterna lua-de-mel: Transamos todos os dias."

Noites ininterruptas de sexo era o mínimo que o maridão PM, que passou a freqüentar Ilha de Caras e festinha globais graças ao casório, poderia fazer para retribuir, não??

sábado, 18 de novembro de 2006

Ficando gostosa


Nota que li, estupefata, no jornal Extra de ontem:

Perguntada sobre o que anda fazendo ultimamente, a "modelo"(?) Nana Gouvêa respondeu:

"-Tenho ficado gostosa, cada vez mais. Ou você acha que não dá trabalho ficar com esse corpão?"


Pois é...considerando que "manter um corpão" exige vultosos investimentos em academia, dieta, lipos, drenagem linfática e outros recursos não menos dispendiosos, gostaria sinceramente de saber como a moça faz para arcar com tudo, já que, como foi revelado pela própria, a única atividade que tem praticado é a de "ficar gostosa?" Será que ela descobriu uma fórmula mágica para torná-la remunerável?

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Sai que é sua, Osti

Este blog nunca mais será o mesmo. O leitor mais assíduo desse espaço e grande amigo da autora, Ostiano Simões, o nosso querido Osti, nos deixou no último domingo. Flamenguista e autêntico carioca da Pavuna, Osti era uma das pessoas mais irônicas e divertidas que conheci. Era mestre em uma das artes que mais admiro: a de sacanear e falar mal dos outros. Mas não pensem que era mesquinho ou fofoqueiro! Pelo contrário. Conheci poucas pessoas mais sinceras e sem rodeios que o Osti. Além de ter sido, sem nenhum exagero, um dos seres mais generosos e solidários que já passaram por este plano.

Osti foi meu primeiro chefe em jornal. Nunca esqueço do dia em comecei a trabalhar com ele, na editoria de Esportes. Nunca tinha colocado meus pés numa redação e quase morri de medo quando ouvi aquele negão enorme, de quase dois metros de altura e mais um tanto de largura (Osti parecia o Seu Figueirinha da Diarista) me perguntando, com um vozeirão de intimidar:

"-Gosta mesmo de futebol ou disse isso só pra conseguir o estágio?"

Eu respondi que gostava muito e até entendia razoavelmente bem.

"-É? E pra que time torce?"

"-Fluminense", respondi

"-Ah! Então já vi que não entende é porra nenhuma!"

Com o tempo, descobri que era tudo pose. Na verdade, Osti era um coração mole. E apesar dos esporros e da cara de mau, protegia os estagiários como se fossem filhos. Quando ele soube que haveria demissões na editoria de Esportes, me mandou pra Geral só pra eu escapar da degola. E pra eu “aprender a ser repórter de verdade”. Tinha uns gestos carinhosos, embora fizesse de tudo pra omitir isso, afinal, tinha que manter a fama de durão. Quando ia sair do Esporte, me mandou cobrir as comemorações do centenário do Fluminense. Tenho certeza que foi uma espécie de prêmio. Porém, quando voltei com a matéria pronta, toda boba, e fui perguntar sua opinião, me veio com o seguinte comentário:

"-Considerando que foi feita por uma mulher- e tricolor- até que ficou boazinha"...

Esse era o Osti...

(continua)...

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Sai que é sua Osti- continuação

Uma das raras pessoas que fazia questão de manter vivas as amizades, mesmo quando as vidas dos amigos tomavam rumos diferentes. Como morava na Pavuna (lá onde o vento faz a curva), não tinha carro e e era um tanto preguiçoso, nunca aparecia nas nossas festinhas, reuniões e encontros etílicos. No entando, sempre ligava pra saber notícias e nunca passava muito tempo sem se manifestar via e-mail, orkut e outras maravilhosas comodidades da era tecnológica. Deste blog, Osti era quase co-autor. Além de comentar todos os meus posts (todos mesmo, não é força de expressão) foi de uma brincadeira dele que surgiu a idéia do nome que batizou essa página (há um post contando a história).

Ultimamente, seu passatempo preferido era sacaner meu pobre time à beira do rebaixamento. Mas ele era um filho da mãe tão engraçado que nossa rivalidade futebolítica, ao invés de me irritar, só rendia boas gargalhadas. Um dia antes do jogo entre Flamengo e Vasco pela final da Copa do Brasil, me deixou um recado no orkut perguntando pra quem eu torceria. Respondi que não sabia ainda, mas que dificilmente seria pelo Vasco. Foi o suficiente pra ele creditar a vitória do Flamengo à minha torcida e me eleger a "Musa da Copa do Brasil". Me mandou trezentos recados, e-mails e torpedos de celular com coisas do tipo: "obrigado, minha musa, você é pé quente"! Por vários dias seguidos...

Uma pessoa normal acharia o repertório suficiente pra sacanear um rival derrotado. Mas não um flamenguista pentelho (e criativo) como Osti! Não satisfeito com o arsenal de e-mails, recados no orkut e torpedos de celular, ele foi capaz da proeza mais inacreditável que um flamenguista já conseguiu pra me sacanear.

Um dia, abro (mais um) e-mail dele com a seguinte mensagem.

"Oi, minha musa. Ainda comemorando o título rubro-negro? Tenho certeza que sim. Em agradecimento à sua torcida, fiz essa pequena homenagem. Pode abrir, não é vírus"

E lá estava, em um arquivo anexo, a foto que segue. O pilantra roubou do meu álbum no orkut e deve ter passado horas no photoshop fazendo essa montagem. Nunca disse isso a ele, é claro, mas ri pra cacete. Também nunca exibi a foto, porque nem meu senso de humor foi capaz de anular a ojeriza que senti ao me ver com essa maldita indumentária do urubus. Agora, que o flamenguista mais bacana que conheci acaba de ir embora tão precocemente, deixo isso tudo pra lá. Em homenagem a ele, retribuo publicando aqui a "homenagem" que, tenho certeza, ele fez pensando em mim com muito carinho.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Meu primo, um corno feliz

Meu primo Dudu já foi citado neste blog de forma negativa, mas tenho que me redimir com o pobre. Ele é um cara bacana. Dentre os meu mais de 20 primos (sim, tenho mais de 20 primos), ele sempre foi o mais amoroso comigo, do tipo que cozinha pra mim quando vou na casa dele e me apresenta pros amigos como "minha priminha mais bonita". Enfim...Pode-se dizer que é um fofo!

O problema do meu querido primo (além de ser um expert na arte do 171, o que lhe rendeu na família o apelido de Agostinho Carrara) é a incapacidade que ele tem de lidar com certos, digamos, deslizes conjugais de sua digníssima. Ou seja, como se diz na linguagem popular...meu primo é corno. E do tipo conformado.

Meu primo conheceu a esposa quando ela tinha 13 anos e era bem jeitosinha. Já com ele, coitado, a natureza não foi muito dadivosa nesse sentido. Mas a jovem parecia apaixonada, apesar dos poucos atributos físicos do namorado. Pouco tempo depois, se casaram. Não necessariamente por causa da paixão da menina, é verdade. O fato é que o pai dela- um cara bronco do interior - pegou meu primo com a boca na botija e o obrigou a desposá-la na base do facão.

Enquanto a mocinha era uma recém-desvirginada indefesa, expulsa de casa pelo pai, meu primo tava bem na fita, encenando o papel do "malandrão suburbano apresentando o mundo pra mulherzinha capiau". O problema é que ele apresentou até demais...e ela começou a gostar!

Os vestidinhos costurdos pela mãe não tardaram a dar lugar a shorts curtíssimos, que desconcertavam os tios nas reuniões familiares (inclui-se papai, que não era santo). E ela gostava! Quanto mais percebia que estavam olhando, mais curtas as vestimentas ficavam.

Até que, não satisfeita em provocar apenas o constrangimento dos tios (e a fúria de suas respectivas esposas), ela começou a alçar vôos mais altos. E a chegar em casa altas horas da madruga, deixando o rebento, ainda bebê, aos cuidados do meu primo, que sempre a aguardava ansiosamente, sem dar um pio.

Um dia, o pobre acabou esperando mais do que das outras vezes. Uma semana, pra ser mais exata. Falo sério, caros leitores. A prima saiu de casa com a roupa do corpo numa sexta à noite (sem o rebento, naturalmente) com um "volto já" e só retornou no sábado seguinte. Após uma busca angustiante que mobilizou até os parentes mortos, soubemos por uma amiga em comum que a desaperecida estava na casa de um caboclo em Saquarema. Mandou avisar que estava viva e muito bem de saúde, mas que não deveriam esperá-la.

Ou seja, a mulher havia chutado o balde. Pro desespero do primo, que só chorava. E pro meu, que fui designada pela minha tia pra ser o ombro amigo e evitar que ele "fizesse uma besteira." De quebra, ainda tinha que ajudar a tomar conta do rebento.

Bem, felizmente (ou não) ela acabou retornando ao lar na semana seguinte. Como se nada tivesse acontecido. Se não fosse o bronzeado e o visual hippie adquiridos, poderia até ter alegado um seqüestro e todos acreditariam, tamanha era a cara de vítima da sujeita. E o meu primo? A aceitou de bom grado.

Palavras dele:

"-Eu tenho que ser compreensivo com ela. Não deve ser fácil ter um filho aos 14 anos. E ela tem direito de se vingar, porque eu já fui uma cara muito galinha."


continua abaixo...

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Meu primo, um corno feliz- continuação


Não preciso dizer que o episódio foi um escândalo na família, com direito a reunião de tios para convencer o rapaz a honrar as cuecas que veste e o sobrenome do clã. Mas o pobre, apaixonado, foi irredutível. Queria a mulher de volta ao aconchego do lar, não importava o que ela tivesse feito durante a semana de "férias conjugais".

Uma cena ocorrida naquele dia não me sai da cabeça. Enquanto o pai dele, desolado e fora de si, gritava pelo quintal da casa que "preferia um filho morto a um filho corno", papai, sacana, dizia pro meu primo: "Liga, não, rapaz. Lavô, tá nova".

O fato é que eles voltaram às boas. Nesta e em todas as outras vezes em que ela resolveu tirar "férias conjugais", "viver novas experiências", "pensar melhor na vida" ou "tirar um tempo para si mesma". Numa dessas, meu primo chegou ao fundo mais fundo que um corno pode chegar: chamou o amante pra uma conversa.

Palavras dele:

"-Disse pro cara que ele pode estar com ela agora, mas ela me ama e vai voltar pra mim. Ainda falei pra cuidar dela, ou vai se ver comigo! Não podia perder a classe!"

Pois é...

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Frases sensacionais que ouvi recentemente de personagens de novela (e que gostaria de ter cacife pra dizer):


"-Trabalhar pra que, se eu tive a sorte de ter um pai rico e um marido que dá duro por mim?"


(Carmem, de Páginas da Vida)

Outra...

Garçom figurante:
"-Abro o champanhe agora ou a senhorita vai esperar seu acompanhante?"

Leona:
"-Acompanhante? Querido, olhe pra mim. Eu sou jovem, bonita, rica, poderosa...e loura! Eu me basto. Abra meu champanhe agora!"

(Leona, de Cobras e Lagartos)

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Minha família é mesmo fantástica! Mais um episódio

A minha mãe sempre foi magra. E gostosa! Aos 35 anos, tinha uma cinturinha invejável, a bunda dura, pernas sem celulite e mantinha o manequim 38, apesar dos dois filhos, dos dez maços semanais de cigarro, das doses quase diárias de martini e chivas e de não conseguir se manter numa academia por mais de uma semana.

Como é inerente a quase toda mulher bonita, mamy é cruel. Nunca perdeu uma oportunidade de espezinhar das feias e desprovidas de encanto. As gordinhas então, sempre foram o principal alvo de seus comentários. “O marido de fulana tem uma amante? Também, quem vai querer comer uma gorda daquelas”

Eu mesma, apesar de ter saído de seu ventre, nunca escapei das críticas. Pelo contrário, sempre fui até mais penalizada que as outras, talvez porque me culpe por não ter herdado seu genes da magreza eterna.

"-Com a sua idade eu não tinha essa barriga! Culote então, nem pensar!" A frase: "Você puxou àquela mulherada gorda da família do seu pai" é praticamente uma gravação, que ela faz questão de entoar como um mantra nos meus ouvidos.

O uso de fotos comparativas é uma estratégia utilizada à exaustão.

"-Olha essa foto! Eu tinha 30 anos, mais do que você tem hoje. Olha como eu era e olha como você é." E conclui, com uma dispensável profecia catastrófica: "Imagina como estará quando chegar na minha idade?"

O problema é que, apesar das duras críticas da minha mãe ao meu sobrepeso, ela não contribui muito pra me ajudar a perdê-lo. Aliás, até atrapalha. Como eu trabalho o dia inteiro para prover o lar, mamy fica responsável pelas tarefas domésticas. Divisão de tarefas mais do que justa, não acham?

Pois é...e o que ela poderia fazer por uma filha penando em (mais uma) dieta? Cardápios light, no mínimo. No entanto, o que rola no menu é uma alternância de feijão com carne-seca e lingüiça frita, costelinha de porco com purê de batatas e outras iguarias igualmente calóricas.

Hoje, depois de ser surpreendida na rua por uma chuva torrencial, perder 10 pratas e brigar com um taxista que tentou me enrolar num trajeto achando que eu era turista, chego em casa cheia de fome e vou ver o que tem pro almoço. Nada mais apropriado para meus objetivos: uma suculenta feijoada. Com direito a farofa de ovo!!!

"Mãe, é pra eu cortar os pulsos?" , perguntei.

-Quem tá gorda é você. Eu e seu irmão não temos culpa. Se não quiser, não come o feijão. Tem alface na geladeira!

Isso é que eu chamo de espírito solidário...

*Para não acharem que exagerei na descrição do primeiro parágrafo, olhem essa foto da minha progenitora, em seu aniversário de 45 anos!!!!!!

Desventuras: o príncipe que virou sapo

Essa desventura é um pouco diferente. Ao contrário das outras fábulas relatadas aqui, a história a seguir não tem um rapaz como vilão...mas eu mesma! Explico:

Meus pais moraram um tempo em Macaé (pra quem nunca ouviu falar, cidade no Norte do Estado do Rio, distante cerca de 3 horas da capital). Pois é...como é de praxe nas cidades pequenas, quase todos os jovens de lá vinham pra capital ou pra Niterói fazer faculdade. Como as passagens são caríssimas, a prefeitura da cidade (que arrecada uma grana de royalties de petróleo) disponibilizava uns ônibus para os pobres universitários irem visitar seus pais nos fins de semana.

Eu nunca morei em Macaé de fato, pois quando meus pais foram pra lá eu já estava na faculdade. Mas nada impedia que eu usufruísse do ônibus para ir visitá-los. E era o que eu fazia, quase todas as sextas-feiras.

E foi numa dessas viagens que protagonizei o mico amoroso que relato a seguir...

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

O príncipe que virou sapo-continuação

Num domingo, viajando de volta pra casa, o carinha sentado ao meu lado começou a puxar conversa.

Depois de alguns minutos dedicados a apresentação básica (estuda aonde, faz o que, onde mora), engatamos uma conversa interminável. Não é que o carinha era deveras agradável? E com um agravante: era gato! Ô! Muito gato. Fortinho, mas sem parecer aqueles funis bombados. Alto, uma perfil interessante...hum...depois de meses no mais completo abandono, algo me dizia que aquela viagem teria tudo pra ser lucrativa...

E assim viemos pela BR-101...num bate-papo ininterrupto, mó afinidade...

A certa altura do campeonato, o rapaz me chamou pra comer uma pizza quando chegássemos, "num lugar perto da sua casa, pra eu poder te levar até a portaria depois", propôs, num gesto fofíssimo. Pizza e portaria, olha que máximo! Nada de me chamar pra conhecer o apartamento dele ou a coleção de cds. Ou de se oferecer pra conhecer o meu.

Ou seja: além de gato e inteligente, não era do tipo que jogava papo nas moças do ônibus para comê-las em seguida! Tudo perfeito. Até desembarcarmos na Novo Rio...

Sei que vão me chamar de má, de preconceituosa, de fresca. Sei que vou ser execrada pelos politicamente corretos pelo que fiz. Mas estava além das minhas forças, foi quase involuntário.

Lembrem-se que eu estava sentada à esquerda do carinha. E que o interior do ônibus não é muito bem iluminado. Portanto, via pouco o lado direito do seu rosto. Pois é...acho que ele não sentou na janela por acaso...

Descemos do ônibus e fomos caminhando até uma lanchonete pra comprar uma bebida. Estava distraída, olhando os chocolates no balcão, quando levei um dos maiores sustos da minha existência:

"-Ei, quer água ou refrigerante?", me perguntou o fofo. Mas ele não era mais fofo. Pelo contrário. Era um ogro! Aaaaaaaaa! Ele tinha uma cicatriz enoooorme. Do lado do rosto que ficara escondido no ônibus. Tadinho! Não era um cicatriz qualquer. Era abjeta, ia da orelha à boca. Deformava o rosto do pobre. Caraios...e agora?, pensei. Já havia aceitado o convite pra pizza, mas o apetite tinha ido embora (em todos os sentidos).

Me sentia péssima! O carinha era tão legal...Que culpa tinha de ter uma cicatriz? E se foi um acidente grave, que matou alguém da família dele? E se tivesse jeito com plástica? Ai...Mas não dava. Era mais forte do que eu. E ao invés de tentar abstrair, tive uma das atitudes mais escrotas da minha biografia. Acreditem: simulei um desmaio pra fugir da pizza. Disse que tinha pressão baixa (o que de fato é verdade), que deve ter sido a viagem, muito cansativa, que deveria, enfim, ir pra casa e que a pizza, que pena, ficaria pra outro dia.

Acho que ele acreditou, porque queria me levar pro hospital e tudo. Mas me levou pra casa. E eu, é claro, dei o telefone errado. Por sorte, nunca mais encontrei com o pobre nas viagens...