Adoro cordões coloridos. Pra uma jornalista sem recursos para investir em roupas como eu, os cordões são uma maravilha. Posso até repetir a blusinha básica: basta variar o cordão e ninguém percebe. Enfim...não é sobre meu gosto pelo acessório que quero falar. Mas sobre uma cena que presenciei enquanto escolhia um deles.
Estava eu em um daqueles ateliês meio alternativos de Botafogo olhando uns cordões. Tudo no lugar é caríssimo- apesar do rótulo de "alternativo"- mas...fazer o quê? Eu gosto dos cordões de lá e de vez em quando tenho sorte de achar umas promoções inacreditáveis. Enfim...experimentava um cordãozinho charmosíssimo quando uma cidadã me cutuca: "Eu tenho um desses, mas me dá alergia no pescoço." E completa: "É que tô acostumada a só usar peças de ouro branco, ainda não me habituei à bijouterias."
Fiquei um tanto irritada e com vontade de mandá-la à merda, mas deixei pra lá, afinal, não seria uma surtada incoveniente que me faria perder o controle e estragar a alegria de um momento tão prazeroso para uma mulher: o de uma comprinha básica. Até porque, achei que ela iria logo embora, já que uma pessoa vestida com roupa de ginástica, argolas douradas e sandália plataforma não iria encontrar nada que a agradasse numa loja tão bacaninha.
Mas a sujeita lá ficou. E, enaquanto experimentava praticamente todo o estoque da loja, alugava os ouvidos da pobre vendedora:
-Difícil encontrar uma loja de nível no Rio de Janeiro. Eu não gosto do estilo de se vestir das mulheres daqui. Quando preciso de uma roupa de festa, tenho que pegar a ponte aérea, esnobou a cidadã, do alto de sua sandália plataforma (com cara daquelas compradas na Di Santinni), combinandíssima com a calça de ginática.
E continuou a ladainha:
-A noite dessa cidade também está cada vez mais pobre. Nem se compara a São Paulo. Não tem um restaurante de nível. Eu e meu marido, quando queremos ir a um bom restaurante, apelamos para a ponte aérea.
Então a vendedora, que até então se limitava a me olhar e soltar um daqueles sorrisinhos que não deixam os dentes à mostra, resolveu se manifestar:
-Eu prefiro o Rio, não faço questão de ir à restaurante chique. Prefiro sentar num barzinho e tomar uma cerveja com os amigos depois da praia
Foi então que a tão refinada sujeita, em mais uma tentativa de esnobar a vendedora ( e a mim), me manda a seguinte pérola:
-Ah, querida. Esse é o problema! Eu odeio cerveja. Gosto mesmo é de um bom vinho. Sabe como é, sou uma "enófila"
Enófila? É...imagino o quanto tenha sido difícil para vendedora manter o risinho que não deixa os lábios à mostra depois dessa.
E adivinhem o que ela disse depois de experimentar todo o estoque da loja? "Aceitam cartão? Não? Ih, querida. Esqueci o talão de cheques. Vou em casa buscar e já volto". Detalhe: na porta da loja, havia uma placa enorme, onde estava escrito, em letras também enormes: "Não aceitamos cartões de crédito." O que nos levou (a mim e a vendedora) a crer que a enófila- além de falar errado, ser brega, e ter nariz empinado- era analfabeta ou queria tirar onda, mesmo sem ter um puto no bolso para comprar sequer o meu cordãozinho.
Nesse momento, senti orgulho de dominar a arte de manter o bom senso, mesmo à beira de declarar concordata.
segunda-feira, 12 de março de 2007
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2 comentários:
Além de dominar a arte de manter o bom senso, voce tb tem uma espiritualidade imensa!! Se ... é por nós, quem será contra nós? O Musa, como sempre, se superando! heheh adorei! beijao!
(mantenha-me sempre informado!)
bjs, Chêro!
Só por curiosidade, consultei o dicionário Aurélio e constatei que a palavra enófilo, de fato, existe!!! Mas certamente seria mais próprio se ela se qualificasse como "enomaníaca" (rsrs).
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